Thony da Silva, da Pizzolante: "É preciso que todos tenham clareza sobre qual é o propósito da empresa, o que ela significa para cada colaborador"

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Ana Clara Macedo
Content Manager at Betterfly
entrevista Thony da Silva

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O futuro do trabalho: como se adaptar e se preparar para o que está por vir?
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"A comunicação é um exercício que transcende a mídia e os canais internos, é um exercício diário."

Thony Da Silva Romero, CEO da Pizzolante 

No início de 2022, os quase 5 bilhões de usuários que com acesso a internet no mundo, o que representa 62,5% da população mundial, passavam cerca de 7 horas por dia navegando na web, segundo dados do We Are Social

É certo afirmar que esse cenário mudou, em todos os níveis, a forma como nos comunicamos, inclusive dentro das empresas, enfrentando os desafios da pandemia durante os últimos anos, nos levou a uma adaptação constante.

A ideia de que tudo e todos se comunicam está muito presente, principalmente dentro de uma configuração organizacional onde diferentes gerações convivem dentro do ambiente de trabalho e onde os seus líderes precisam encontrar formas para que todos se comuniquem de forma eficaz, atendendo às suas necessidades e expectativas, além de evitar ruídos. 

Thony Da Silva Romero, CEO da Pizzolante, propõe um paradigma de comunicação integral que enxerga as organizações como meios de comunicação que devem conhecer e atender os diferentes públicos, e se aprofunda nos desafios de 2023, confira: 

Para onde estão evoluindo as estratégias de comunicação internas dentro das organizações? 

Da Silva: Diante de um ano tão complexo, talvez o mais importante seja saber como a comunicação pode contribuir para alinhar toda a equipe da empresa em torno de objetivos comuns, no sentido de conseguir entender quais são os riscos que todos enfrentam. 

A comunicação é um exercício que transcende a mídia e os canais internos, é um exercício diário, por isso é preciso que todos tenham clareza sobre qual é o propósito da empresa, como ela se prepara para enfrentar os desafios, o que ela significa para cada colaborador e como podem contribuir a partir do seu local de trabalho, além de contribuírem efetivamente na resolução de algumas questões da transição para o futuro.

Como a cultura organizacional pode ajudar a fortalecer a comunicação?

Da Silva: A comunicação é fruto da cultura, que nada mais é do que a forma como somos e fazemos, é a expressão da identidade e da personalidade da empresa.

Ambos jogam de forma simbiótica entre si e, idealmente, as organizações devem ter valores muito fortes e bem definidos, que partam de um claro senso de propósito e que reflitam no diálogo, para que, de alguma forma, isso sirva para criar uma comunicação aberta, proativa e permita, por sua vez, fortalecer a cultura organizacional.

O propósito das organizações influencia em como elas enfrentam as crises que surgem?

Da Silva: Sim, totalmente! E ter claro esse propósito de como abordo o mercado, a forma como respondo aos meus interlocutores, seja qual for a área em que atuam, me ajudam a estabelecer uma forma de atuação sustentável.

Além da gestão de riscos, é importante analisar a experiência cotidiana?

Da Silva: A gestão de riscos é uma construção constante e essencial para uma equipe de trabalho que lida, efetivamente, com o levantamento dos riscos de uma organização. O que não deve acontecer é negligenciar esse exercício de resgate da experiência dos colaboradores em prol de levar aquela vivência coletiva que permite alimentar muito melhor o mapa de perigos e, consequentemente, se preparar de uma forma mais efetiva.

Tem que ser um planejamento muito bem estruturado, mas ao mesmo tempo deve ser entendido como um exercício dinâmico e flexível o suficiente para se adaptar a novas realidades. 

Hoje, falamos de organizações multigeracionais e multiculturais, como construir uma comunicação efetiva para todos e sem exclusão?

Da Silva: É um grande desafio. Vivenciamos realidades multigeracionais e multiculturais, e isso resulta numa forma óbvia como se comunicam uns com os outros, o que pode ser observado sobretudo nas escalas hierárquicas das organizações.

Ainda temos organizações que têm pessoas de gerações mais velhas em posições mais altas. Esse é um dos elementos que deve ser compreendido, e que requer muito trabalho de sensibilização dentro das empresas para que haja constante compreensão da existência destas realidades distintas, além de criar uma convivência que seja efetiva para incluir todos respeitando as diferenças geracionais.

O mais interessante é como criar esquemas de trabalho colaborativo que permitam que, para além das questões comunicacionais, as gerações possam conviver, contribuir e projetar juntas. 

Comunicação em formato híbrido: quais aspectos devem ser levados em conta para que a estratégia seja eficaz?

Da Silva: Esse esquema de trabalho, apoiado em tecnologia e virtualidade, veio para ficar. Penso que pode nos tornar muito mais eficientes e produtivos. 

O formato híbrido tem como vantagem a mobilidade permanente, onde não há mais restrições de tempo e espaço. O lado negativo disso é que essa ausência de limites impacta na qualidade de vida dos funcionários.

A cultura se alimenta não só do contacto transacional para o trabalho, mas também do contato humano, da conversa espontânea, das ocorrências no local de trabalho que te façam sentir parte de uma equipe. 

É um desafio muito importante onde a comunicação desempenha um papel fundamental. Quanto maior a virtualidade, maior a necessidade de produção de espaços de comunicação que garantam sempre a clareza dos contextos. Portanto, a ausência da comunicação efetiva é a receita para o desastre.

Como as organizações podem pensar em ouvir seus públicos, no mais amplo espectro, sem esquecer de nenhum em momentos de crise?

Da Silva: Antes de tudo, você tem que sondar, perguntar. Medir é um exercício ativo de escuta das abordagens, opiniões e desejos dos colaboradores.

Ouvir as pessoas por meio da supervisão de líderes requer uma cultura de comunicação adequada da liderança. Isso é fundamental para poder levantar opiniões, realizar grupos de trabalho colaborativos e para poder contribuir por meio desse exercício direcionado de ouvir, reunindo diversas opiniões sobre um determinado tema empresarial.

Algo que temos feito, e tem dado resultados extraordinários, é a criação de programas de embaixadores dentro das organizações. São figuras que representam a organização por dentro e às vezes até por fora.

É possível fortalecer a confiança nas equipes de trabalho em tempos de crise?

Da Silva: Alinhar toda a equipe para que ajudem a empresa a cumprir a sua missão, mas também dar-lhes a segurança e a certeza em relação a quais são os potenciais impactos que podem ter, permite construir relações maduras e sólidas, baseadas na transparência e com muita lealdade dentro da organização. 

Ao mesmo tempo, cria um ambiente de trabalho sadio e devidamente informado, onde os colaboradores têm um espaço de comunicação e escuta com a sua liderança, contribuindo para que possam tomar decisões efetivas para uma melhor tomada de decisão. Desta forma, todos estarão participando ativamente e colaborando com a empresa.

Assim, vemos que a comunicação não é mais unilateral, mas verdadeiramente bidirecional, os funcionários podem aprender com a organização para realizarem melhor o seu trabalho.

Hoje se fala muito sobre o futuro do trabalho, qual o papel da comunicação nesse processo?

Da Silva: Hoje, no mundo do trabalho, temos uma multigeracionalidade para gerir e as organizações devem entender que essas gerações veem o mundo e se conectam com ele de maneiras diferentes, têm prioridades diferentes.

Portanto, é importante criar um ambiente saudável e de bem-estar, equitativo e inclusivo. Um ambiente adequado para as pessoas crescerem, se capacitarem, prosperarem e evoluírem, juntamente dos benefícios trazidos para a organização.

Também é fundamental saber gerir o permanente embate entre as expectativas e a realidade de ambas as partes, tanto dos colaboradores quanto das organizações.

Quais são as três prioridades que as organizações devem abordar com urgência em 2023?

Da Silva: Desde a incerteza e complexidade do mundo atual ao que se projeta para 2023 - em que se espera uma recessão -, há uma série de questões para as quais não temos necessariamente solução ou resposta. 

Para as organizações que operam nestas condições, existem vários elementos que devem ser melhor observados. A primeira tem a ver com a qualidade da sua liderança, a forma como estão estruturadas e a forma como essa estrutura permite fluidez e a tomada de decisões, são questões muito importantes para garantir a agilidade que será exigida para poderem navegar nas águas turbulentas de 2023.

A segunda tem a ver com questões sociais. O mundo está cada vez mais desigual, com grandes carências e problemas sociais, sobretudo na América Latina, onde não se criam soluções adequadas, apesar das grandes expectativas. Obviamente, isso gera uma pressão significativa sobre o setor empresarial, afinal, os governos não têm capacidade para resolver todos os problemas sociais, e cada vez mais torna-se necessária a cooperação entre governo e empresas privadas para lidar com estes problemas.

Por isso, o modelo de relacionamento da empresa com a sociedade continua sendo um tema central que transcende questões estritamente filantrópicas ou de responsabilidade social. Nestas questões, as organizações muitas vezes se tornam simples doadores, mas não se envolvem estruturalmente e efetivamente nas soluções.

Finalmente, a sustentabilidade ambiental também é uma questão que toda organização terá que abordar de uma forma ou outra. É um desafio nosso que se tornou absolutamente crítico.

O ponto chave é saber como alinhar, internamente, na organização e como se articular para abordar todas essas questões. É um desafio para as organizações garantir que as pessoas, desde os acionistas até o último colaborador, estejam alinhadas com esses pensamentos. Essa articulação interna requer muito esforço, tempo e comunicação.

Ultima atualização 12 de Janeiro del 2023
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